Em busca de sentido

“O sentido torna muitas coisas, talvez tudo, suportável.” Carl G. Jung

O sentido nos conecta à realidade, nos faz viver apesar do sofrimento, dá coerência ao que somos

diante da coletividade, leva luz às trevas e é alimento da alma.

A Bela Adormecida - a iniciação ao feminino


A versão do conto por Disney.




     A BELA ADORMECIDA - A INICIAÇÃO AO FEMININO
Esta apreciação do conto consta de um resumo deste a partir da versão original dos Irmãos Grimm(1), acompanhado da respectiva amplificação e análise. Em versões mais antigas dessa estória, a princesa possui o nome de Talia, que em grego significa “o florescimento”. Os Irmãos Grimm já a chamam de Bela Adormecida. No idioma original, o título em alemão é composto de palavras que significam espinho e florzinha. Algumas versões desse mesmo conto traduzem o nome da princesa para “Rosa (ou Flor) do Espinheiro”, já que o reino em que dorme é cercado por extenso espinheiro(2). Nesta análise, será adotado o nome de “Aurora”, usado pela longa-metragem de animação de Walt Disney, mesmo porque ele condiz com os nomes já aludidos.
Há muito tempo atrás, um casal real não conseguia um filho. Quando a rainha tomava seu banho, um sapo saiu da água e disse que ela teria uma menina antes de um ano. A criança nasceu muito formosa e o rei preparou uma grande festa.
     Enquanto o casal não têm filhos, são considerados estéreis, isto é, não produzem fruto; não podem produzir descendência e prolongar o processo vital. Isso indica uma estagnação, que algo não está bem ou está faltando na vida. Em geral, isso é retratado no dia a dia quando nada parece fazer sentido e o tédio domina a vida. A depressão também pode se instalar. Normalmente o indivíduo já procurou o médico, que não acha uma causa material para os sintomas, ou já seguiu vários conselhos, sem sucesso. A vida simplesmente não “engata”, não flui, e nada segue em frente.
     O banho é um símbolo bastante recorrente na alquimia, usado para representar uma purificação, uma transformação ou uma união de elementos opostos (JUNG, 1990c, §484). No caso, uma atitude consciente deve requerer uma compensação para seu equilíbrio no lado inconsciente da personalidade, o que é representado pela água do banho e também pelo sapo.
O sapo como amuleto.
     A rã e o sapo são símbolos equivalentes, pois em várias versões de certos contos, aparece a rã ou o sapo. Na mitologia o sapo é o elemento masculino, enquanto a rã, o feminino. Na China, a rã de três pernas vive na lua e produz o elixir da vida. Na nossa civilização ela foi sempre associada à Mãe Terra, especialmente como auxiliar nos partos. Nos países católicos, quando uma parte do corpo é curada por um santo, uma imagem de cera dessa parte é doada à Igreja, o que não ocorre quando a doença é no útero ou há problema com o parto. A imagem ofertada será uma rã de cera, que representará o útero. Em muitas igrejas e capelas da Bavária a estátua da Virgem é rodeada de rãs desse tipo, o que indica sua conexão com a mãe, o que está faltando na família real. Rãs e sapos são muito usados em bruxarias ou magia, como amuletos ou em poções afrodisíacas. No folclore “o sapo é visto como um animal feiticeiro, e sua pele e pernas pulverizadas são usadas como um dos ingredientes básicos de praticamente todas as poções mágicas”. Em resumo, tanto a rã quanto o sapo são deuses da terra, com poderes sobre a vida ou a morte (VON FRANZ, 1990).
Convidou também,  das 13 fadas de seu reino, 12 para as quais dispunha de pratos de ouro, para abençoar a criança. Ao final da festa, as fadas presentearam-na com dotes mágicos: virtude, formosura, riqueza e tudo o que há de desejável. Quando 11 já tinham falado, a 13ª entrou de repente. Para se vingar, por não ter sido convidada, amaldiçoou a princesa: ao completar 15 anos, ela deveria espetar-se em um fuso e cair morta. Então saiu do salão, e a 12ª fada, que não podia anular a maldição, abrandou-a, dizendo que a princesa não morreria, mas cairia em sono profundo por cem anos. Preventivamente, o rei ordenou que todos os fusos do reino fossem queimados.
Malévola corresponde à 13ª fada, não convidada.

      Essa condição do casal real indica que não não se realizou uma união plena, apesar do nascimento da filha.  Existe ainda a não aceitação de certo aspecto, o que acabará decaindo o reino inteiro na condição de estagnação por um longo período de tempo. Psicologicamente, isso indica, no indivíduo, uma espécie de regressão devido a dificuldades em se lidar com determinados aspectos do crescimento. Pode-se perceber essa condição no adolescente que resiste em aceitar as responsabilidades de adulto, embora goste da independência que essa situação implica. Prefere-se, então, permanecer no "tempo de criança", onde nada muda.
     O número 13 é considerado de mau agouro desde a antiguidade. Filipe da Macedônia acrescentou sua estátua às dos Doze Deuses superiores em uma procissão, e foi assassinado logo em seguida. Na última ceia de Cristo o total dos presentes era treze. Para a cabala existem treze espíritos do mal. O 13º capítulo do Apocalipse refere-se ao Anticristo e à Besta. O 13 determina uma evolução em direção à morte, à consumação de um esforço periodicamente interrompido. Ele foge à ordem e aos ritmos normais do universo. Sua iniciativa é má porque não está harmonizada com a lei universal. Serve à evolução do indivíduo, mas agita a ordem do macrocosmo e perturba seu descanso, como unidade perturbando o equilíbrio das variadas relações do mundo (12 + 1). A morte, 13º arcano superior do Tarô, não significa o fim, mas o recomeço após a conclusão de um ciclo (de novo 12 + 1). De forma geral, corresponderia a um recomeço no sentido de um refazer, mais do que um renascer de algo (CHEVALIER e GHEERBRANT, 1990, p. 902-903).
     No conto, o sentido da praga da 13ª fada representaria, de certo modo, o retorno da ausência da filha do início do conto, a volta da esterilidade inicial. E isso porque não se convidou o inesperado, não se contou com o que ninguém queria que ocorresse: o desagradável, o fim da felicidade, a ausência do fruto, do filho. Deseja-se apenas a expressão das qualidades. Não se pode nem fazer menção da relação do indivíduo com algum defeito, mesmo que se acabe sabendo lidar com ele. Esse tipo de atitude impera há muito tempo na psicologia dos indivíduos em geral, pois prefere-se a repressão ao mal, pois sua presença mesmo em pensamentos é pecado, do que admitir sua presença, mesmo que sua expressão seja disciplinada.
     Inicialmente, a personalidade do indivíduo se abre inteiramente para o novo, mas depois não quer abrir mão da evolução madura ou adulta desse lado criança (os 15 anos), advindo daí a maldição a partir do inconsciente: a imposição da morte, da imobilidade da vida, até se completar um ciclo completo (100 anos) para que houvesse um novo despertar.
As três parcas.
     Na mitologia grega, três fusos são girados pelas Parcas: o Passado, por Láquesis; o Presente, por Cloto; e o Futuro, por Átropos. A vida de todo ser vivo é regulada pelo fio que a primeira fia, a segunda enrola e a terceira corta. Esse é o caráter irredutível do destino, que tem duplo aspecto: a necessidade de movimento do nascimento à morte, e a necessidade desta última  (CHEVALIER e GHEERBRANT, 1990, p. 455).
A menina realizou todos os dons concedidos pelas fadas. No ano em que completava 15 anos, encontrando-se só, resolveu examinar todos os cantos do castelo, e chegou a uma velha torre. Subiu a estreita escada em espiral e abriu uma pequena porta de chave enferrujada. Lá encontrava-se uma velha com um fuso, fiando seu linho. Curiosa, a menina a cumprimentou e pegou o fuso, querendo fiar. Ao tocá-lo, espetou-se no dedo e caiu na cama, em profundo sono.
     O filme “Malévola”, que conta a estória da Bela Adormecida do ponto de vista da fada má, trata da iniciação feminina frustrada da protagonista, como demonstrado no ensaio “Malévola – a amargura do feminino”. Débutant, em francês, quer dizer iniciante, e corresponde à tradicional festa de comemoração de quinze anos de uma jovem. Em países europeus, essa festa, uma espécie de rito de iniciação, caracterizava o momento em que a adolescente era, pela primeira vez, ao completar 15 anos, apresentada como mulher à sociedade, e onde possíveis pretendentes também compareciam.
Torre de Babel quer dizer "Porta de Deus".
     Um mito da antiga Mesopotâmia ditava que, em outros tempos, houvera um rompimento entre os Pais do Mundo – o céu e a Terra. As torres foram criadas como templos de adoração, com o intento de elevar a mente e o coração do homem, assim como proporcionar meios aos deuses de descerem à Terra. Efetivavam, portanto, a restauração da intercomunicação dos Pais do Mundo. Simbolicamente, eram concebidas como veículos de ligação entre o espírito e a matéria. Forneciam uma escada, pela qual os deuses poderiam descer e o homem subir, o que dramatiza a correspondência entre as ordens celeste e terrena. É como se o cosmo fosse penetrado de uma vida só, havendo uma harmonia entre os modos superior e inferior do Ser e do Vir-a-Ser: “O que está em cima está embaixo” (NICHOLS, 1995, p. 279-280). Além disso, a torre, ao retratar uma ascensão, traduz a energia solar geradora transmitida à terra. “Foi em uma torre de bronze onde se encontrava aprisionada que Dânae recebeu a chuva de ouro fecundante de Zeus” (CHEVALIER e GHEERBRANT, 1990, p. 889). No contexto do conto, a subida à torre parece indicar a necessidade de ligação entre o corpo e o espírito, e a fecundação do primeiro pelo segundo. A menina aspira cumprir o seu destino, indo ao encontro do espírito, daquilo que está em falta em seu íntimo, da sua sombra, do que foi desprezado por seus pais (a 13ª fada), e que deve completar sua personalidade. A morte, a transformação, não pode faltar, pois ela não pode continuar a mesma, já que a menina deve morrer, e renascer a mulher. Na adolescência o corpo se transforma, e uma mutação correspondente deve haver no espírito, na personalidade, na psique.
     A imagem da velha tecendo no fuso aponta, por um lado, para as Parcas e o destino; por outro, figura a sorte de todo ser vivo: a senilidade, a decrepitude, a qual termina com a morte. Espetar o dedo no fuso é aceitar o fado de toda mulher, é estabelecer contato com o inconsciente pelo sono para equilibrar a atitude consciente. Ora, Aurora pode receber quantas virtudes puder, mas todas elas findarão um dia, e isso não pode ser esquecido.
Este sono estendeu-se a todo o castelo e seus habitantes, bem como aos animais. Até o fogo ficou imóvel; o assado parou de crepitar e o cozinheiro, que queria puxar seu ajudante pelos cabelos para puni-lo, soltou-o e dormiu. Também o vento e as árvores ficaram imóveis. Em volta do castelo cresceu uma cerca de espinhos que cobriu-o inteiramente.
Com Aurora, todo o reino também adormeceu.
     Mas o sono de Aurora não é um sono comum, pois tudo paralisa, tudo dorme com ela. É como se o tempo fosse suspenso. Não é como um coma, onde o paciente perde os eventos correntes. Aurora não perde nenhum evento em seu reino, pois tudo paralisa. Se há paralisia imposta pelo inconsciente, provavelmente isso constitui um símbolo para uma paralisação idêntica, mas consciente, como a vontade de permanecer sempre criança e não querer crescer, de não se desligar da família, de não casar, de não mudar. “Tudo poderia permanecer assim para sempre!”, poderia aspirar Aurora, como ocorre com o tempo quando se é criança, pois aí ele não transcorre como para o adulto. A criança vive um eterno presente, que escoa lentamente. Apenas com a rotina dos adultos é que o tempo começa a passar depressa. Mas para a criança tudo é novidade, tudo tem que ser assimilado aos poucos, pois ela não conhece quase nada comparada a um adulto.
     O adormecimento de Aurora revela a passagem por um rito de iniciação. “Iniciar é, de certo modo, fazer morrer, provocar a morte […] é também introduzir. O iniciado […] passa de um mundo para outro, e sofre, com esse fato, uma transformação, muda de nível, torna-se diferente. […] A iniciação opera uma metamorfose. […] O neófito […] penetra na noite, mas uma noite que lhe diz respeito; embora comparável à do seio materno, é, de maneira mais ampla, a noite cósmica” (CHEVALIER e GHEERBRANT, 1990, p. 506). O fato de, junto com Aurora, todo o reino também adormecer, indica que a mudança que a debutante passa também reflete em todo o reino. Toda mudança psicológica em um indivíduo reflete em uma transformação no seu sistema de relações, principalmente da família e das ligações afetivas mais próximas. Aliás, devido à mudança, o próprio indivíduo passa a ter uma perspectiva diferente das outras pessoas, que agora parecem modificadas.
De todo o país chegavam príncipes, atraídos pela lenda da Bela Adormecida, que se enroscavam na cerca viva, com espinhos entrelaçados como mãos, vindo a morrer. Até que, após 100 anos chegou um príncipe ao reino, que ouviu de um velho a estória sobre uma linda princesa guardada em um castelo atrás de uma espessa cerca de espinhos, que dormia há cem anos com seus pais e toda a corte. Determinou-se a libertá-la, apesar do velho tentar dissuadi-lo.
    Nesse conto, Aurora despertará não por causa do beijo do príncipe, mas porque é chegada a hora, os cem anos decorridos. E isso tem um motivo. A contemplação de uma pessoa calejada, cruel e impiedosa durante o sono ou no instante em que acorda, revela um espírito de inocência, sem mácula. No sono, todos são devolvidos a um estado de doçura, no qual se refazem, recriados de dentro para fora, novos em folha, como inocentes. Esse estado de sábia inocência é alcançado quando se descarta o cinismo e as atitudes defensivas, e se renova quando se dorme, embora muitos o deixem de lado junto à colcha ao acordar. Voltar à inocência não exige tanto esforço quanto mover um monte de tijolos de um lugar para o outro, mas que se fique parado o tempo suficiente para que o espírito o encontre. “Diz-se que tudo que procuramos também está à nossa procura; que, se ficarmos bem quietos, o que procuramos nos encontrará. Ele está esperando por nós há muito tempo. Depois que ele aparecer, não devemos fugir. Descansemos. Vejamos o que acontece em seguida.” (ESTÉS, 1999, p. 113-114). 
     Aurora desperta quando tem que despertar. Quando chega o momento, surge o verdadeiro príncipe que irá libertá-la do sono prolongado para uma nova vida, a vida de mulher. E, apesar de ser o momento certo do despertar, percebe-se que o príncipe não é qualquer um, pois os espinhos desabrocham em flor à sua passagem, e se tornam novamente espinhos. O príncipe simboliza a promessa de um poder supremo, a superioridade entre seus iguais, exprime as virtudes régias no estado da adolescência, ainda não dominadas nem exercidas (CHEVALIER e GHEERBRANT, 1990, p. 744).
A coroa de flores de laranjeira.
     A expressão “terra de espinhos”, na tradição semítica e cristã, designa a terra selvagem, não cultivada e não lavrada, virgem. Já a coroa de espinhos – substituída nos casamentos pela coroa de flores de laranjeira – significa a virgindade da mulher, bem como a do solo (CHEVALIER e GHEERBRANT, 1990, p. 397). Essa expressão e seu significado é a que melhor descreve a condição dos espinhos que cercam o reino da Bela Adormecida. A cerca de espinhos forma como que uma “coroa de espinhos” ao redor dos domínios da princesa, indicando sua condição de mulher, de iniciante nos mistérios femininos, mais uma vez.
Ao se aproximar da cerca de espinhos, estes se transformaram em grandes flores bonitas que, à sua passagem, tornaram-se novamente espinhos. Percebeu que todos ainda dormiam: os cavalos, os cães, os pombos, até as moscas. Viu o cozinheiro que levantava a mão para agarrar o menino e a criada sentada diante da galinha preta que ia depenar. Finalmente chegou à torre e chegou ao quartinho onde Bela Adormecida dormia.
     A transformação dos espinhos em flores à passagem do príncipe evoca a coroa de flores de laranjeira usada nos casamentos. Indica que o príncipe é bem-vindo, que chega no momento certo e no lugar certo. Tudo está imóvel e inanimado à sua chegada.
Ao contemplar sua beleza, ele beijou-a, ela acordou e o olhou amavelmente. Desceram e viram toda a corte e os animais despertar. O fogo levantou-se, chamejou e cozinhou a comida, o assado voltou a crepitar, o cozinheiro deu um forte tabefe no menino, que gritou, e a criada terminou de depenar a galinha. As bodas do príncipe com a princesa foram festejadas com toda a pompa, e eles viveram felizes até o fim.
O beijo do príncipe.
     O beijo expressa a união, o encontro do masculino e do feminino, com o qual ocorre a volta à vida do reino. A transformação apenas se efetiva com a chegada do príncipe. A morte ou o sono finaliza no período de cem anos, mas é o príncipe que está lá para sinalizar e demarcar esse período. Não se pode dizer que Aurora despertaria ao findar do período, mesmo sem a presença do príncipe. Nem que este conseguiria aproximar-se dela antes ou depois dos cem anos. O conto expressa que há um conjunto de fatores que, em conjunção, resultam na revitalização do reino e da princesa. O momento é uma totalidade de condições única, que só pode ocorrer devido a uma conjunção de fatores. Assim ocorre em nossas vidas, na prática, como dita a sabedoria popular: “O que é seu está guardado”.
     Neste ponto, é importante terminar esta análise com a leitura do poema “Eros e psique”, de Fernando Pessoa, o qual possui vários elementos do conto estudado que resultam em uma brilhante síntese de sentido.

EROS E PSIQUE

...E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.
    (Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio 
na Ordem Templária De Portugal)

    Conta a lenda que dormia
    Uma Princesa encantada
    A quem só despertaria
    Um Infante, que viria
    De além do muro da estrada.

    Ele tinha que, tentado,
    Vencer o mal e o bem,
    Antes que, já libertado,
    Deixasse o caminho errado
    Por o que à Princesa vem.

    A Princesa Adormecida,
    Se espera, dormindo espera,
    Sonha em morte a sua vida,
    E orna-lhe a fronte esquecida,
    Verde, uma grinalda de hera.
    Longe o Infante, esforçado,
    Sem saber que intuito tem,
    Rompe o caminho fadado,
    Ele dela é ignorado,
    Ela para ele é ninguém.

    Mas cada um cumpre o Destino
    Ela dormindo encantada,
    Ele buscando-a sem tino
    Pelo processo divino
    Que faz existir a estrada.

    E, se bem que seja obscuro
    Tudo pela estrada fora,
    E falso, ele vem seguro,
    E vencendo estrada e muro,
    Chega onde em sono ela mora,

    E, inda tonto do que houvera,
    À cabeça, em maresia,
    Ergue a mão, e encontra hera,
    E vê que ele mesmo era
    A Princesa que dormia.

        Fernando Pessoa

(Leia mais a respeito: "Malévola - a amargura do feminino")

REFERÊNCIAS (as demais encontram-se na página "Referências", do blog)


(2) Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Bela_Adormecida_%28conto%29>. Acesso em 11 jun. 14, 12:00h.