"Instalemos o presépio no próprio coração e deixemos germinar Áquele que se fez pão e vinho para que todos tivessem vida com a fartura e a alegria. Abandonemos a um canto, a árvore morta coberta de lanjetouras e plantemos no fundo da alma uma oração que sacie nossa fome de transcendência. Deixemo-nos, como Maria, engravidar pelo espírito de Deus. Então, algo de misteriosamente novo haverá de nascer."
Frei Betto
CASAMENTO
"Cada um de nós, todos nós, estamos cheios de horror. Se você se casa para tentar espantar os seus, só vai se sair bem se fizer seu horror casar com o horror do outro, os dois horrores de vocês dois se casarão, você sangrará e chamará isso de amor." (ZWEIG e ABRAMS, 1994, p. 100)
"Do mesmo modo, o desejo natural de Tom [marido de Laura] de se aproximar intimamente de outra pessoa era uma necessidade que ele via, não dentro de si mesmo, mas como algo que basicamente existia em Laura. A necessidade de estar próximo de sua parceira, no contexto de um relacionamento confiante e mutuamente revelador, era vista como necessidade dela. Tom nunca sentia isso como um desejo ou uma necessidade que se originava dentro do seu próprio ser. Ele era, a seus próprios olhos, auto-suficiente; ou seja, ele bastava a si mesmo.
Mas, ao mesmo tempo em que Laura dependia de Tom para se afastar quando ela se aproximava, Tom dependia de Laura para tentar a aproximação a fim de se sentir necessário e desejado - íntimo.
Em lugar de expressar diretamente qualquer desejo ou necessidade de intimidade (ou mesmo conscientizar-se desses desejos e sentimentos e assumir a responsabilidade por eles), Tom precisava dissociá-los de sua consciência. [...]
O que acontecia no relacionamento desse casal é extremamente comum nos casamentos em geral. O conflito que os dois parceiros estavam enfrentando — um conflito entre querer satisfazer suas próprias necessidades individuais e querer satisfazer as necessidades do relacionamento — foi dividido igualmente entre eles. Em vez de serem capazes de admitir que ambos queriam intimidade e que ambos queriam buscar seus próprios objetivos independentes — ou seja, que o conflito autonomia/intimidade era um conflito que existia dentro da cabeça de cada um — os Brett [Tom e Laura], inconscientemente, fizeram esse acordo secreto." (ZWEIG e ABRAMS, 1994, p. 97)
"Quando ouvi a primeira história de amor comecei a procurar por ti, sem saber o quanto estava cega. Os amantes não se encontram num lugar. Eles existem, desde sempre, um no outro."
Rumi
"O amor tem mais do que um ponto em comum com a convicção religiosa: exige uma aceitação incondicional e uma entrega total. Assim como o fiel que se entrega a seu Deus participa da manifestação da graça divina, também o amor só revela seus mais altos segredos e maravilhas àquele que é capaz de entrega total e de fidelidade ao sentimento. Pelo fato de isto ser muito difícil, poucos mortais podem orgulhar-se de tê-lo conseguido. Mas, por ser o amor devotado e fiel o mais belo, nunca se deveria procurar o que pode torná-lo fácil. Alguém que se apavora e recua diante da dificuldade do amor é péssimo cavaleiro de sua amada. O amor é como Deus: ambos só se revelam aos seus mais bravos cavaleiros.
Da mesma forma critico o casamento experimental. O simples fato de assumir um casamento experimental significa que existe de antemão uma reserva: a pessoa quer certificar-se, não quer queimar a mão, não quer arriscar nada. Mas com isto se impede a realização de uma verdadeira experiência. Não é possível sentir os terrores do gelo polar na simples leitura de um livro, nem se escala o Himalaia assistindo a um filme.
O amor custa caro e nunca deveríamos tentar torná-lo barato. Nossas más qualidades, nosso egoísmo, nossa covardia, nossa esperteza mundana, nossa ambição, tudo isso quer persuadir-nos a não levar a sério o amor. Mas o amor só nos recompensará se o levarmos a sério. Considero um desacerto falarmos nos dias de hoje da problemática sexual sem vinculá-la ao amor. As duas questões nunca deveriam ser separadas, pois se existe algo como problemática sexual esta só pode ser resolvida pelo amor. Qualquer outra solução seria um substituto prejudicial. A sexualidade simplesmente experimentada como sexualidade é animalesca. Mas como expressão do amor é santificada. Por isso não perguntamos o que alguém faz, mas como o faz. Se o faz por amor e no espírito do amor, então serve a um Deus; e o que quer que faça não cabe a nós julgá-lo pois está enobrecido."
Carl G. Jung, "Civilização em transição".
DESEJOS COMPULSIVOS
"Se não quisermos ser feitos de tolos pelas nossas ilusões, devemos, pela análise cuidadosa de cada fascínio, extrair dele uma parte de nossa personalidade, como uma quintessência, e reconhecer lentamente que nos encontramos conosco mesmo repetidas vezes, em mil disfarces, no caminho da vida."
C. G. Jung
Comentário Charles A. Resende:
Nossos fascínios, as fantasias que nos tomam compulsivamente, são companheiros internos que precisam de nossa compreensão, de nosso diálogo, mas também precisam ouvir o que queremos, o que representam para nós. No final, saímos sempre mais completos, pois ficamos cientes de que são necessidades que também precisam de nossa atenção, ao lado das preferências com que nos identificamos.EGOÍSMO E EGOCENTRISMO
"O processo de atingimento da individualidade consciente é o processo de individuação [...]. A individualidade inconsciente se exprime em impulsos compulsivos para o prazer e para o poder e nas defesas de todo tipo de que o ego dispõe. Esses fenômenos costumam ser descritos por palavras de cunho negativo, tais como egoísta, egocêntrico, autoerótico e assim por diante. [...] O fato é que, en volto pelas manifestações da individualidade inconsciente, repousa o valor supremo da própria individualidade, à espera de sua redenção pela consciência. Jamais chegaremos ao lapis jogando fora a prima materia."
Edward F. Edinger, em "Ego e Arquétipo", p. 218.
"podemos considerar o egocentrismo do consciente, da mesma forma, um reflexo ou imitação do "self"-centrismo do inconsciente".
Jung apud Edward F. Edinger, em "Ego e Arquétipo", p. 218.
"Podemos acrescentar a isso que, se o egocentrismo é a imitação do Si-mesmo feita pelo ego, então o ego, através da aceitação consciente dessa tendência, tornar-se-á consciente daquilo que está imitando: o centro e a unidade transpessoais da individualidade, o Si-mesmo."
Edward F. Edinger, em "Ego e Arquétipo", p. 219.
"Como todos os setores da personalidade são substitutos e imitações dos aspectos da essência, eles são marcos fidedignos destes aspectos. Ao compreender os setores, ganharemos novamente os aspectos da essência."
A. H. Almaas, "Essência", p. 202.
MENTIRAS
Temos que distinguir também a compulsividade em mentir da capacidade em ver os fatos de forma distante e prestar mais atenção à imaginação. As pessoas que são mais imaginativas geralmente não focam nas sensações, não dão importância à precisão dos fatos, e podem dar a impressão de mentir. Dessa forma, sua sombra é justamente a sensação e não a mentira. E não mentem: sua verdade é a categoria de possibilidades das coisas exteriores e não essas coisas em si.
Quanto à compulsividade em mentir, a diferença para os que não "mentem" é que aqueles deixam por demais explícito suas defesas. Estes não. E convenhamos: todos mentimos, principalmente para nós mesmos.
Charles A. Resende
SOMBRA
"De algum modo, quase todos nós sentimos que qualquer qualidade, uma vez reconhecida, precisará necessariamente ser passada ao ato; pois, mais doloroso do que enfrentar a sombra, é resistir aos nossos impulsos emocionais, suportar a pressão de um desejo, sofrer a frustração ou a dor de um desejo insatisfeito. Logo, para evitar ter de resistir aos nossos impulsos emocionais quando os reconhecemos, preferimos simplesmente não vê-los e nos convencer de que eles não estão ali. A repressão parece menos dolorosa que a disciplina. Mas ela é, infelizmente, mais perigosa, pois nos faz agir sem a consciência dos nossos motivos, ou seja, de modo irresponsável. Mesmo que não sejamos responsáveis pelo modo como somos e sentimos, precisamos assumir a responsabilidade pelo modo como agimos. Portanto, precisamos aprender a nos disciplinar. E a disciplina está na capacidade de, quando necessário, agir de modo contrário aos nossos sentimentos. Essa é uma prerrogativa — bem como uma necessidade — eminentemente humana." (ZWEIG e ABRAMS, 1994, p. 41)
"É interessante notar que diabolos significa literalmente, "separar" (dia-bollein). Agora, o fascinante é que "diabólico" é o antônimo de "simbólico". Simbólico vem de symbollein, que significa "unir". Existe, nessas palavras, uma imensa implicação com respeito a uma ontologia do bem e do mal. O simbólico é aquilo que reúne, enlaça, integra o indivíduo consigo mesmo e com seu grupo; o diabólico, por outro lado, é aquilo que desintegra e separa. Ambos esses aspectos estão presentes no daemônico." (ZWEIG e ABRAMS, 1994)
"Se formos capazes de ver o mundo do crime no nível do imaginário e não só do literal, começaremos a perceber que precisamos de "criminosos" para assaltar, violentar e matar o nosso ego cotidiano, os nossos padrões típicos de pensamento e emoção, que destroem a nossa alma e nos permitem tomar decisões e cometer atos que rompem o tecido da comunidade e os objetos e criaturas do mundo. Esse crime precisa ser cometido. E, além disso, o criminoso precisa ser pego para que possamos enfrentar o nosso atacante face a face e nos entendermos com ele. Precisamos ouvir as razões que o criminoso tem para nos atacar. Se apenas o trancafiamos e jogamos fora a chave, se apenas o executamos ou desterramos, então nada teremos ganho.
Teríamos apenas sacrificado um pouco mais da humanidade. Junto com os seres humanos que matamos, estaríamos matando a nossa oportunidade de nos tornarmos mais humanos; estaríamos desistindo da nossa chance de apreender uma porção mais ampla do espectro total da humanidade, tanto sua escuridão quanto sua luz. E o pior é que teríamos sacrificado a Terra que nos rodeia e a alma humana. Costumamos dizer que os astecas eram primitivos porque faziam sacrifícios humanos para aplacar seus deuses. Nós aplacamos a nossa consciência fechando os olhos às pessoas que atiramos dos penhascos, aos criminosos que destruímos, aos países do Terceiro Mundo que sacrificamos à nossa prosperidade, às gerações futuras que sacrificamos para podermos ter todos os bens de consumo que hoje cobiçamos." (ZWEIG e ABRAMS, 1994, p. 255)
"O 'grande problema do mal não é o pecado, mas a recusa em admitir o próprio mal' [Scott Peck]. Aquilo que não conseguimos enfrentar de frente nos agarrará pelas costas. Quando alcançamos a verdadeira fortaleza de admitir a nossa condição moral imperfeita, deixamos de ser possuídos por demônios".
Andrew Bard Schmookler (ZWEIG e ABRAMS, 1994, p. 211)
"A teia da vida é um emaranhado confuso de bem e mal: nossas virtudes seriam orgulho, se nossos erros não as fustigassem; nossos crimes seriam desespero, se não fossem alimentados pelas nossas virtudes."
William Shakespere (ZWEIG e ABRAMS, 1994, p. 186)"A estrada para a alegria passa através dos portões do inferno." (ZWEIG e ABRAMS, 1994, p. 263)
"Talvez todos os dragões desta vida
sejam princesas à espera de ver-nos, belos e bravos.
Talvez o horror seja apenas, no mais fundo do seu ser,
algo que precisa do nosso amor."
Rainer Maria Rilke (ZWEIG e ABRAMS, 1994, p. 102)
SONHOS
- A importância dos sonhos
VIDA
"Qualquer árvore que queira tocar os céus precisa ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos."
Carl G. Jung
“Viver a si mesmo significa: ser tarefa para si mesmo. Não digas nunca que é um prazer viver a si mesmo. Não será nenhuma alegria, mas um longo sofrimento, pois precisas tornar-te teu próprio criador.”
Carl G. Jung
"Há um amor secreto se escondendo em cada problema. Problemas são bênçãos ocultas que nutrem e sustém nossas almas."
James Hillman
"A verdade é que os nossos melhores momentos são mais prováveis de ocorrer quando estamos nos sentindo profundamente desconfortáveis, infelizes ou insatisfeitos. Pois é somente em tais momentos que, levados por nosso desconforto, estamos propensos a sair da nossa rotina e começar a procurar por direções diferentes ou respostas mais verdadeiras."
M. Scott Peck