O arquétipo da inteireza e o centro regulador da psique; um poder transpessoal que transcende o ego.
Como conceito empírico, o Si-mesmo designa toda a gama de fenômenos psíquicos no homem. Ele expressa a unidade da personalidade como um todo. Mas, na medida em que a personalidade total, por causa de seu componente inconsciente, pode ser apenas parcialmente consciente, o conceito do Si-mesmo é, em parte, apenas potencialmente empírico e é, nessa medida, uma hipótese. Em outras palavras, abrange tanto o experienciável quanto o não vivenciado (ou o ainda não experimentado)... É um conceito transcendental, pois pressupõe a existência de fatores inconscientes em bases empíricas e, portanto, caracteriza uma entidade que só pode ser descrita em parte (JUNG, 1991e, §789).
O Si-mesmo não é apenas o centro, mas também toda a circunferência que envolve o consciente e o inconsciente; é o centro dessa totalidade, assim como o ego é o centro da consciência (JUNG, 1990c, §44).
Como qualquer arquétipo, a natureza essencial do Si-mesmo é incognoscível, mas suas manifestações são o conteúdo do mito e da lenda.
O Si-mesmo aparece em sonhos, mitos e contos de fadas na figura da "personalidade supraordenada", como um rei, herói, profeta, salvador, etc., ou na forma de um símbolo de totalidade, como o círculo, o quadrado, quadratura do círculo, cruz, etc. Quando representa uma união de opostos, também pode aparecer como uma dualidade conectada, na forma, por exemplo, de tao como a interação de yang e yin, ou dos irmãos hostis ou do herói e seu adversário (arqui inimigo, dragão), Fausto e Mefistófeles, etc. Empiricamente, portanto, o eu aparece como um jogo de luz e sombra, embora concebido como uma totalidade e unidade na qual os opostos estão unidos (JUNG, 1990c, §790).
A realização do Si-mesmo como um fator psíquico autônomo é freqüentemente estimulada pela invasão de conteúdos inconscientes sobre os quais o ego não tem controle. Isso pode resultar em neurose e uma subsequente renovação da personalidade, ou em uma identificação inflada com o poder maior.
O ego não pode deixar de perceber que o afluxo de conteúdos inconscientes tem vitalizado a personalidade, enriquecido e criado uma figura que de alguma forma supera o ego em vontade e intensidade… Naturalmente, nessas circunstâncias, existe a maior tentação de simplesmente seguir o instinto de poder e identificar o ego com o eu absoluto, a fim de manter a ilusão do domínio do ego... Mas o Si-mesmo só possui um significado funcional quando pode agir compensatoriamente para com a consciência do ego. Se o ego é dissolvido em identificação com o Si-mesmo, origina-se um tipo de super-homem vago com um ego inchado (JUNG, 2009, §430).
As experiências com o Si-mesmo possuem a mesma característica de numinosidade das revelações religiosas. Por isso, Jung acreditava que não havia diferença essencial entre o Si-mesmo como realidade experiencial, psicológica, e o conceito tradicional de uma divindade suprema.
O Si-mesmo pode ser igualmente chamado de "o Deus dentro de nós" (JUNG, 1981, §399).
O conceito exposto acima foi traduzido e editado do inglês por Charles A. Resende a partir de Sharp (1991). Não se encontra entre aspas, tendo em vista que é uma paráfrase do texto original, em português, e foi editado, possuindo partes suprimidas e/ou acrescentadas.
Referências
SHARP, Daryl. Jung Lexicon: a primer of terms & concepts. Toronto: Inner City Books, 1991. Disponível em: . Acesso em 08 maio 2018.
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